Ir.·. José A. Budoia

SAGA DE JOAQUIM GONÇALVEZ LEDO  PELA EMANCIPAÇÃO POLÍTICA DO BRASIL

COM O APOIO DA MAÇONARIA DO GRANDE ORIENTE DO BRASIL

Elaborado pelo Irmão José Aparecido Budoia, membro da Loja Comércio e Artes nº 0001

Essa narrativa visa a compilação dos principais fatos da
Vida e Obra de Joaquim Gonçalvez Ledo, tendo como escopo destacar a sua
importância no cenário Maçônico e no contexto sócio-políticocultural
brasileiro. Dentre eles, a incansável luta pela emancipação do Brasil,
consubstanciada em documentos históricos e fundamentada nas atas do Grande Oriente
Brasiliano ou Brasílico, no período de 17 de junho de 1822 a 25 de outubro de
1822, constantes no Boletim do GOB, Nº 6, 48º Anno, junho de 1923.

Entendemos que os historiadores não foram generosos com o nosso maior líder Revolucionário,
Joaquim Gonçalves Ledo. Porém isso é compreensível, pois  no decorrer do século XIX, os bastidores da
política aconteciam nos seios das lojas maçônicas, tendo vários líderes maçons
como protagonistas no processo de emancipação política do Brasil. Segundo relatos históricos,
Joaquim Gonçalves Ledo, por convicções ideológicas radicais em relação à Coroa
Portuguesa, sempre se mostrou avesso a Títulos e Condecorações. Ledo,
inclusive, recusou a assumir o cargo de Ministro e de receber o Título de
“Marquês de Praia Grande”, dentre outros, oferecido pelo Príncipe Regente.  Enquanto isso, José Bonifácio era o Ministro
do Reino e gozava de toda a confiança e prestígio da Realeza, sendo notório o
protagonismo nos acontecimentos históricos.

Em que pesem os parcos fatos atribuídos pela história a
Gonçalves Ledo, jamais seu histórico de lutas e conquistas nos centros das
Lojas Maçônicas será desconsiderado por esta Grandiosa Potência Maçônica.   Quanto a liderança de José Bonifácio, os estudos nos mostram
que de fato ele não foi maçom por convicção e sim por interesses pessoais e
políticos, o que pode ser comprovado nos registros das 19(dezenove) sessões,
nas Atas do Grande Oriente Brasílico, de 17 de junho de 1822 a 25 de outubro de
1822, ou seja, da fundação da Potência até o fechamento. Juntamente com seus
aliados, José Bonifácio foi o responsável pela suspensão dos trabalhos da Ordem
por, aproximadamente, 10 anos.

Entretanto, os registros nos dão conta que no Cargo de
Grão-Mestre José Bonifácio de Andrada e Silva (Pithagoras) presidiu apenas
4(quatro) sessões: a 6ª sessão quando fez o juramento, a 9ª por ocasião da
iniciação de D.Pedro D`Alcantara, a 12ª e a última a 16ª sessão. Portanto, não
compareceu na sessão de Fundação do Grande Oriente e, embora aclamado
Grão-Mestre, não tomou posse.

Outro que não deveria constar como fundador do Grande
Oriente Brasílico foi o Grande Delegado (Grão-Mestre Adjunto), Irmão Joaquim
Alvares. Ele compareceu uma única vez, na 1ª Sessão de Fundação do Grande
Oriente, fez o juramento e se ausentou em seguida. Como não presidiu nenhuma
sessão, foi substituído na 12ª sessão pelo Grão-Mestre José Bonifácio.

Já o Grão-Mestre Dom Pedro I (Guatemosim) compareceu nas
três últimas sessões do Grande Oriente: na 17ª quando foi aclamado Grão-Mestre,
na 18ª e 19ª sessões, e obviamente, na 6ª quando foi iniciado. Ao contrário do
que alguns estudos apontam, não houve a 20ª sessão. Dom Pedro apenas enviou o
“Termo de Encerramento dos Trabalhos do Grande Oriente do Brasil”, datado de 21 de outubro de 1822, endereçado ao 1º Grande Vigilante Irmão Joaquim Gonçalves Ledo.

Por outro lado,
Gonçalves Ledo (Diderot) compareu a todas as 19 sessões, presidindo 12,
por ausências do Grão-Mestre José Bonifácio e do Grande Delegado, dentre as
quais as sessões de Fundação do Grande Oriente Brasílico e as de posse dos
Grãomestres eleitos Bonifácio e Dom Pedro. E, ainda, lutou pela permanência dos trabalhos do Grande Oriente, pois suas atividades maçônicas foram encerradas por D. Pedro. Ele logrou êxito na manutenção dos trabalhos, porém foi
inviabilizado por José Bonifácio e seus aliados, conforme demonstraremos no decorrer deste trabalho.

Destacamos um pouco da história da luta pela fundação do
Grande Oriente Brasílico com o objetivo da emancipação política do Brasil. Há 200
anos, início do século XIX, os artífices da Loja Comércio e Artes, capitaneados
por Gonçalves Ledo, idealizaram a fundação de uma Potência Maçônica objetivando dar sustentação aos processos de mudanças, estabelecendo um novo cenário político e social para o país.

Dentre estes Idealizadores estava Joaquim Gonçalves Ledo,
político, jornalista, grande tribuno defensor dos interesses do Brasil e
senhorio de uma incontestável oratória, segundo o historiador Assis Cintra.
Nascido no Rio de Janeiro, em 1 de agosto de 1781, filho primogênito de Antonio
Gonçalves Ledo e Dona Maria dos Reis, família abastada de comerciantes. Ledo
faleceu em 19 de maio de 1847, na Fazenda do Sumidouro, município de Macacu,RJ.

Ledo, ainda muito jovem, aos 14 anos, em 1795, foi estudar
em Coimbra, Portugal, onde cursou Ciências Humanistas e não Medicina como
afirmam alguns, no momento em que a Europa estava em completa efervecência pela Revolução Francesa contra o obscurantismo.
Não encontramos subsídios históricos para afirmar se Ledo concluiu os
seus estudos ou teve que retornar precocemente ao Brasil por dificuldades
financeiras da família no Rio de Janeiro.

As divergências político-ideológicas entre Gonçalves Ledo e
José Bonifácio começaram ainda em Portugal. Ledo não aceitou pegar em armas
para defender a Coroa portuguesa, uma nação que, segundo ele, saqueava o
Brasil, através da exploração de suas riquezas, bem como dos altos impostos
cobrados e, ainda havia esquartejado Joaquim José da Silva Xavier, o
Tiradentes. Consequentemente, neste episódio ele é hostilizado pelo grupo de
Bonifácio por não compartilhar deste ato e retorna ao Brasil com o firme
propósito de lutar pela emancipação política do país.

Em 1808, retorna ao Brasil, já iniciado na Ordem e, antes do
seu regresso, escreve uma carta ao seu irmão consanguíneo, Custódio, estudante
de medicina em Londres, com o espírito patriótico arraigado, relatando as suas
intenções sobre a independência.

Eis um trecho da carta, importante documento histórico para
a maçonaria, embora pouco conhecido:

 -“… Partirei daqui
brevemente e acompanhado de mais amigos irei organizar no Brasil a primeira
Loja que será o centro da propaganda liberal no Brasil”.

Podemos observar neste trecho da carta, que Gonçalves Ledo
invoca para si os ideais libertários movidos pelo ímpeto do movimento
iluminista. Consequentemente, retornando ao Brasil, inicia a sua luta obstinada
no processo de libertação do país do jugo de Portugal. Articula e funda a
primeira Loja Regular Brasileira, cumprindo a sua promessa, em 15 de novembro
de 1815, com o sugestivo nome de Comércio e Artes, célula Mater da Maçonaria,
jurisdicionada ao Grande Oriente Lusitano.

Lamentavelmente, algum tempo depois, em 30 de março de 1818,
a Loja Comércio e Artes foi forçada a abater colunas por imposição do Alvará de
D. João VI, que proibia o funcionamento de todas as sociedades secretas,
inclusive a maçonaria, fomentado pela Revolução Pernambucana de 1817, sob pena
de morte àqueles que violassem o decreto.

Entretanto, os trabalhos em prol da independência
continuaram caracterizados sob o manto de Sociedades Recreativas e Culturais.
Assim, Joaquim Gonçalves Ledo, perseverante pela emancipação política, fundou o
Clube Recreativo e Cultural da Velha Guarda.

Somente no dia 26 de Abril de 1821, após o regresso de D.
João VI para Portugal, foi possível a reorganização da Maçonaria no Brasil, sob
a liderança de Ledo, embora o Alvará que proibia o funcionamento das sociedades
“ditas secretas” ainda não havia sido revogado.

O predestinado
Gonçalves Ledo reinstala a Loja Comércio e Artes, no dia 24 de junho de
1821, com intuito de reverberar os ideais libertários no firme propósito de
promover a emancipação política do Brasil.
Fato curioso é que a reinstalação foi no dia de São João, “Padroeiro da
Maçonaria”, coincindindo com a data de fundação da Grande Loja de Londres em
1717.

No entanto, D. João VI ao regressar a Portugal deixa o
herdeiro ao trono o Príncipe Pedro D´Alcantara, com 21 anos. Segundo relatos, o
Príncipe Regente, jovem e voluntarioso, aqui permanece, não sozinho, porém,
envolvido com homens idealistas, a maioria maçons, que constituíam a elite
pensante e econômica da época.

A maçonaria brasileira não estava isolada e sim desfrutava
do convívio com os grandes líderes maçons libertários latino-americanos, como
Simon Bolívar, Francisco de Miranda, San Martín e Bernardo O´Higgins, dentre
outros.

Desde os primórdios, a imprensa teve relevante papel no
processo de emancipação sócio-política-cultural do Brasil. Podemos citar,
dentre outros, o vocacionado jornalista Hipólito da Costa Pereira de Mendonça,
contemporâneo de Joaquim Gonçalves Ledo, redator do Jornal Correio Brasiliense
editado em Londres de 1808 até 1823, disseminando os ideais libertários. Após a
fundação do Grande Oriente, Hipólito da Costa foi representante junto a Grande
Loja da Inglaterra.

A Gazeta do Rio de Janeiro, na defesa dos interesses
monárquicos e da colonização, foi fundada em 10 de setembro de 1808 e circulou
até 1822, com a Proclamação da Independência. A Gazeta foi o primeiro jornal
impresso no Brasil e marca o início da imprensa no país. Era editado pelo Frei
Tibúrcio José da Rocha  e seu conteúdo
era tendencioso e servia aos interesses da Coroa Portuguesa e nas primeiras
edições raramente trazia notícias sobre o Brasil.

Na contramão dos interesses da Corte, Joaquim Gonçalves Ledo
e o cônego Januário da Cunha Barbosa fundaram o jornal Revérbero Constitucional
Fluminense, em 15 de setembro de 1821, o mais importante periódico
pró-independência. Foi a primeira publicação independente e crítica na impressa
brasileira de cunho essencialmente político. Seus editoriais romperam com as
ideias centrais de emancipação sustentadas pelos exaltados redatores. No
decorrer de 13 meses, circularam 48 números ordinários e 3 extraordinários, de
15 de setembro de 1821 a 8 de outubro de 1822. O jornal foi elogiado por
D.Pedro, porém fechado por José Bonifácio. Seus redatores foram perseguidos e
forçados a abandonar o país. Ledo fugiu para Buenos Aires e Januário foi
deportado.

Segundo o jornalista Matías Molina, o periódico  Revérbero publicava “artigos doutrinários” na
seção “Reflexões”, a mais importante do jornal, além de notícias da Corte,
correspondências dos leitores e informações do exterior traduzidas de jornais
de Paris e Londres.

A emancipação política do Brasil começou a se desenhar no
dia 9 de janeiro de 1822, “Dia do Fico”, tendo Joaquim Gonçalves Ledo como um
dos promotores. D. Pedro entendeu a influência e a força das hostes maçônicas e
permaneceu no país. No jornal Revérbero, os implacáveis redatores combatiam com
veemência os interesses dinásticos portugueses e reivindicavam a constituição
de um governo liberal.

Em seguida, numa cartada política, no dia 13 de maio de
1822, os Maçons fluminenses da Loja Comércio e Artes, sob a liderança de
Joaquim Gonçalves Ledo, outorgaram ao Príncipe Regente o título de “Defensor
Perpétuo e Constituicional do Brasil”. A influência de Ledo crescia e os
conflitos de interesses entre os seus aliados e os de Bonifácio se
acirravam.   Logo, José Bonifácio de
Andrada e Silva no dia 02 de junho de 1822, funda a “Nobre Ordem dos
Cavaleiros de Santa Cruz”, o “Apostolado”, era uma Sociedade
Secreta, alheia à Maçonaria.  O
Apostolado defendia a Independência monárquica e D. Pedro assumiu o mais alto
cargo  com o título de Archonte-Rei,
sendo José Bonifácio seu Lugar-Tenente. Pertenciam ao Apostolado diversos
maçons, inclusive Ledo. Antônio Carlos Andrada, na “Nobre Ordem”, sob
orientação de José Bonifácio, viria a redigir a constituição política que
deveria reger os destinos do Brasil.

A posição de Gonçalves Ledo, conhecida por todos, era a
Independência sob o regime republicano-democrata. No entanto, ele reconhecia
que, em face das circunstâncias políticas, era praticamente impossível
prescindir da liderança do Príncipe Regente. Diante de tais circunstâncias,
Ledo e seu seguidores atraíram D. Pedro às colunas da Maçonaria, o que
de fato aconteceu após a fundação do Grande Oriente Brasiliano.

Embora houvesse divergências ideológicas entre Bonifácio e
Ledo, na forma de governo Monárquico ou República, não havia antagonismo quanto
ao objetivo, pois ambos lutavam pela Independência do Brasil.

Entretanto, Ledo era enfático e seus discursos eram
eloquentes e inflamados em prol da liberdade e, consequentemente, redigiu
vários documentos e manifestos importantes. Dentre  eles, redigiu o manifesto invocando com
veemenência a necessidade da convocação de uma Assembleia Nacional Constituinte
para o Brasil, com a participação do maçon Januário da Cunha Barbosa, lido pelo
Irmão José Clemente Pereira, no dia 02 de junho de 1822, em audiência com D.
Pedro.

Finalmente, no dia 3 de junho de 1822, D. Pedro convoca a
Assembleia Nacional Constituinte para elaborar uma Constituição adequada para o
país e comunica a D. João VI que o Brasil deveria ter suas Cortes. Foi outro
passo preponderante para a Proclamação da Independência.

Ledo e sua visão republicana. Identificando movimentos
políticos desarticulados nas Lojas Maçônicas e incrédulo dos propósitos do
“Apostolado” pela independência do Brasil, resolve fundar uma Obediência
Maçônica, desvinculada de Portugal, ou seja, uma Oficina-Chefe que submetesse
todas as Lojas do Brasil em prol do Bem Comum, um país independente e unido em
todo o território da Colônia.

O sonho do predestinado Gonçalves Ledo se torna realidade em
17 de junho de 1822, conforme exarado na Ata da 1ª Sessão Histórica de fundação
do Grande Oriente Brasílico ou Brasiliano, na Loja Comércio e Artes, única Loja
regular no Brasil, no Oriente do Rio de Janeiro, jurisdicionada ao Grande
Oriente de Portugal.

Através de uma articulação política, Gonçalves Ledo e seus
aliados ascendem José Bonifácio ao mais alto cargo de Grão-Mestre da potência
Maçônica ora fundada. Seu objetivo era atrair o “poder” para a causa maçônica,
pela forte influência que Bonifácio exercia sobre o Príncipe Regente. Embora
Ledo ainda nutrisse esperanças pela Independência Republicana.

Entretanto, os registros históricos demonstram o total
desinteresse de José Bonifácio pela maçonaria, porém, aceita o Cargo de
Grão-Mestre, mas não comparece para tomar posse, frequentando apenas 3 ou 4
sessões das 19 realizadas pelo Grande Oriente Brasílico.

O Barão do Rio Branco destaca a importância de Ledo e
escreveu:

 – “Foi Ledo quem
inspirou todas as grandes manifestações daqueles dois anos da nossa capital,
quem instigou o governo a convocar uma constituinte e quem redigiu alguns dos
principais documentos políticos, como o manifesto de 1º de agosto de 1822,
dirigido por Dom Pedro aos brasileiros”.

A liderança de Gonçalves Ledo era notória junto a D. Pedro.
O prícipe Regente aceita o convite para ingressar na Ordem, certamente, mais
por conveniência do que pelo seu conjunto articulado de valores, opiniões, crenças
ou inclinação ideológica, independente das divergências de ideais entre os
Andradas e os alidados de Ledo. Dessa forma, teria o apoio  necessário naquele momento turbulento no
Brasil e em Portugal. Logo ingressa na Maçonaria, ascendendo em poucos meses ao
cargo de Grão-Mestre por articulação de Ledo.

A maçonaria reforça as suas colunas. No dia 02 de Agosto de
1822, conforme ata da 9ª Sessão do Grande Oriente Brasílico, o profano D. Pedro
D´Alcantara foi iniciado na Ordem, com o codinome “Guatemosim”, na Loja
Comércio e Artes na Idade do Ouro, desta feita, presidida pelo ‘Sapientíssimo’
Grão-Mestre José Bonifácio de Andrada e Silva, seu padrinho.

A ascensão ao Grau de Mestre Maçon de D. Pedro foi no dia 05
de Agosto de 1822, na 10ª sessão do Grande Oriente, por aclamação, na Loja
Comércio e Artes.

Por fim, é aclamado Grão-Mestre da Maçonaria Brasileira no
dia 04 de outubro  de 1822, na 17ª Sessão
do Grande Oriente Brasílico, sob a presidência do 1º Grande Vigilante Irmão
Joaquim Gonçalves Ledo (Diderot),  pelas
ausências do Grão-Mestre Irmão José Bonifácio e do Grande Delegado.

Consta em ata que, nesta mesma Sessão de eleição e posse,
foi ratificado pela Assembleia Maçônica do Grande Oriente Brasílico o título de
1º Imperador Constitucional do Brasil. Esse título teve aclamação civil no dia
12 de outubro.

O que nos causa espécie é que havia um clima de absoluta
normalidade na 16ª Sessão do dia 28 de Setembro de 1822, presidida por José
Bonifácio e que antecedeu à aclamação de Dom Pedro ao Grão-Mestrado. Pelas
atas, não há nada que sugerisse mudanças no comando do Grande Oriente
Brasílico.  Nessa mesma sessão,
inclusive, José Bonifácio foi elevado ao Grau 6 – Cavaleiro do Oriente e na
“Sessão seguinte” seria outorgado com o grau 7
do Rito – Cavaleiro Rosa Cruz.

Podemos fazer uma inferência nesta lacuna histórica do
Grande Oriente. Entre os dias 28 de setembro e 4 de outubro de 1822, muito
dificilmente o Principe Regente seria eleito e empossado Grão-Mestre sem a
anuência de José Bonifácio, seu padrinho na Ordem e  respeitadíssimo Ministro do Reino.
Principalmente, sem o amparo legal da Constituição por Joaquim Gonçalves Ledo.
Não consta ainda nos registros quaisquer manifestações dos aliados dos
Andradas, mesmo com a presença dos Irmãos das Lojas Metropolitanas na Sessão de
juramento e posse. Jamais vamos conhecer as circunstâncias que levaram a este
desfecho, aparentemente, em um clima de serenidade. Salvo melhor juízo, somente
se o “golpe de mestre”, como defendido por alguns historiadores, tenha sido
fruto do brilhantismo e altivez de  Ledo
e, ainda, contasse com a conivência do Regente e Imperador do Brasil.

Embora constatamos algumas dúvidas levantadas por
historiadores quanto a data da eleição, podemos inferir, após leitura minuciosa
da ata de 04 de outubro de 1822, que neste intervalo de tempo, de fato houve a
convocação para a eleição por geral aclamação da Assembleia Maçônica do Grande
Oriente Brasiliano. Tal convicção foi a exposição do 1º Grande Vigilante,
Gonçalves Ledo, sobre a eleição, na abertura dos trabalhos, aos obreiros
presentes. Pois, a época não havia uma pauta regular das reuniões Maçônicas, o
Andador (chanceler) convocava os obreiros conforme a necessidade das
Assembleias.

Em que pesem as diferenças ideológicas, entre a
Independência Monárquica e Republicana, o importante para os incrédulos é que
esta Sessão histórica de 04 de outubro de 1822, não deixa a menor dúvida quanto
a participação efetiva da maçonaria no processo de emancipação política do
Brasil.

Em 05 de outubro de 1822, segundo ata da 18ª Sessão do
Grande Oriente, sob o grande malhete do “Sapientíssimo” Grão-Mestre Dom Pedro,
foi aprovado que o título de Defensor Perpétuo do Brasil fosse hereditário na
família do Imperador, em reconhecimento dos incomensuráveis serviços prestados
ao Brasil.

Tais acontecimentos acirram a rivalidade entre Ledo e
Bonifácio, principalmente, por este ter sido substituido no cargo de
Grão-Mestre. Como consequência, Dom Pedro determinou o fechamento das
atividades maçônicas, conforme o “Termo de Encerramento e Suspensão dos  Trabalhos”, dirigido ao 1º Grande Vigilante
Joaquim Gonçalves Ledo,  lavrado no Livro
de Ouro do Grande Oriente, datado de 21 de outubro de 1822.

Eis o texto redigido por D.Pedro I:

“Aos cinco dias do 8.º mês do ano da V. L. de 5822 (25 de
outubro de 1822, E. V.) recebeu o Ir. 1.º Gr. Vig. uma prancha, na qual
determinava o Ir. Gr. Mestre Guatemosin que se suspendessem os trabalhos do Gr.
Or. e de todas às Oficinas do Círculo até segunda determinação sua, declarando
que assim o mandava na qualidade de Gr. Mestre da Maçonaria Brasileira e na de
Imperador e Defensor Perpetuo deste Império. Encerrados, portanto, os
trabalhos, se dispersaram os trabalhadores…”.

Entretanto, Gonçalves Ledo, com suas habilidades
características, consegue com o Grão-Mestre, D.Pedro, reverter o fechamento no
dia 23 de Outubro de 1822, através do “Termo de Reabertura do Grande Oriente
Brasiliano”.

Ato contínuo, já no dia 25, enviou uma carta ao Ledo,
autorizando que os trabalhos fossem reiniciados na “próxima segunda-feira”, dia
28 de outubro de 1822. Mas o grupo de Ledo estava respondendo processo
impetrado por Bonifácio e os trabalhos não puderam ser reabertos. Perseguidos,
Ledo homiziou na Argentina. As atividades só retornaram depois da pacificação
do grupo de Ledo e Bonifácio, após a abdicação do Imperador D.Pedro I,  em 7 de abril de 1831

Com a derrocada dos Andradas em julho de 1823, Ledo retornou
ao Brasil, assumindo o cargo de Deputado para o qual havia sido eleito em 1822.

E o Grande Oriente Brasílico foi reinstalado em novembro de
1831, com o título de Grande Oriente do Brasil – GOB, com a participação de
Joaquim Gonçalves Ledo. Inicialmente foi reaberto com as Lojas Metropolitanas,
tendo como Grão-Mestre José Bonifácio, e suas atividades permancem com força e
vigor até os dias atuais.

Para finalizar, não há como desassociar a trajetória do
Grande Oriente do Brasil à verdadeira história do país. Nos primórdios do
século XIX, os Templos maçônicos foram as grandes ribaltas dos movimentos
políticos mais relevantes, engendrados pelo grande líder maçom, Joaquim
Gonçalves Ledo, ao qual rendemos nossas homenagens, com sua visão republicana e
o exemplo de perseverança, virtude do maçom.
As discussões políticas eram inerentes aos Templos Maçônicos. Naquela
época não existiam partidos políticos constituídos e, consequentemente, eram
nas Câmaras Maçônicas que discutiam-se os ideais da liberdade Política
(polis) e a liberdade de Expressão. Logo, grandes decisões foram tomadas nessas
Câmaras como os fatos nos mostraram.

É incontestável  que a
maçonaria, especialmente o Grande Oriente do Brasil, foi a alavanca propulsora
nos movimentos políticos, sociais e econômicos do Brasil Colônia até a
Proclamação da República e outros.

Realmente os historiadores não foram generosos com a
biografia do grande Líder Revolucionário Joaquim Gonçalves Ledo, verdadeiro
maçon. Porém, reafirmamos que o seu histórico de lutas e conquistas,
comprovadamente pelos fatos apresentados, jamais será desconsiderado por esta
Potência Maçônica.

O Grande Oriente do Brasil deve homenagens a esse mártir
como símbolo de dedicação e perseverança nos ideais de liberdade e
Independência do Brasil, a exemplo do reconhecimento dedicado aos líderes
libertários latino-americanos como: Simón José Bolivar – na Venezuela, José San
Martin – na Argentina, Bernardo O’Higgins – no Chile e tantos outros.

Para concluir, o Grande Oriente do Brasil deverá levantar
templos à viturde e, literalmente, construir um Panteão e elevar ao alto uma
Estátua Maçônica em memória a Joaquim Gonçalves Ledo pelo legado que nos
deixou, que é essa operosa Potência Maçônica Regular e reconhecida pela Grande
Loja da Inglaterra.

Em que pesem os fatos pretéritos, devemos nos inspirar
nesses mártires para que, no presente, possamos construir um futuro mais justo
e promissor.

Parabéns!!! Joaquim
Gonçalves Ledo!!!       Parabéns!!!
Grande Oriente do Brasil!!!

M.:I: José A Budoia  

ARLS Comércio e Artes – 0001 – Primaz do Brasil – VM no biênio 2013/2015 – Deputado Federal – ARLS Antônio Ignácio da Costa, 2938 e Presidente de Relações Públicas da SAFL Formação em Análise de Sistemas – Diplomado pela Escola Superior de Guerra – Altos Estudos de Planejamento Estratégico – ESG/2000